Torcedor Ricardo Veras define: Lusa é atmosfera, é familiar

Portuguesa – História, Amor, Situação

Meu nome é Ricardo, tenho 46 anos e um dos meus lemas é olhar pra frente.
Sim, o almoço de ontem me trouxe até hoje. Devo pensar no próximo.
Mas será que a Portuguesa terá próximo?
Pensar na Portuguesa me leva as três divisões citadas no sub-título.
A história de uma colônia que desembarcava no Brasil, tanto por ser o país descoberto por Portugal, quanto por situações de Primeira e Segunda Guerra Mundiais, quanto à fuga dos jovens lusos, como meu pai, pra não serem levados às guerras na África, onde as colônias de Portugal lutavam nos anos 50.

                            F: Arthur Dafs

Isso fez a Portuguesa nascer em 14 de agosto de 1920 da junção de cinco clubes lusitanos, o que mostrou na época, uma grande massa de gente envolvida e unidas a uma prosperidade para o novo clube.
Prosperidade que teve áureos tempos com cerca de 90 mil sócios nos anos 70. Mas nunca uma prosperidade de títulos no futebol, mesmo tendo incontáveis craques, centenas eu diria.

Sim, a Portuguesa sempre foi escancaradamente roubada dentro das quatro linhas.
Se a Lusa ganhasse metade dos campeonatos que lhe foram tirados no apito, tudo seria diferente hoje. Tamanho da torcida (filhos e netos, hoje podemos contabilizar os bisnetos de portugueses) que migraram para os rivais. O tamanho do espaço destacado pela mídia, patrocínios, etc. Sim, a Portuguesa seria um dos gigantes do futebol.
Mas nada disso tirou o amor de quem torce por Ela. Porque quem torce pra Lusa, quer títulos sim, mas torce pela paixão.

Vejo pesquisas de torcida pra outros clubes oscilarem, pois quando são campeões consecutivamente, muitos dizem torcer e quando os títulos somem esses mesmos também. Na Portuguesa isso não acontece. Acho que o motivo está no encantamento dos seus ‘adeptos’, pra usar um termo da Península Ibérica.

O torcedor da Portuguesa é o verdadeiro fiel, porque quando você pisa no terreno do Canindé, você respira uma atmosfera. Você sabe que alguém da sua família doou cimento, tijolo, dinheiro ou suor pelas paredes que você vê. Você pode passar na sala que tem os azulejos com os nomes dos doadores.

Você sai de casa com fome, porque não entra no jogo sem comer alguma comida típica. Você vai encontrar um parente, alguém da escola ou do trabalho, sem ter combinado. Você vai descobrir que o vendedor da firma X que nunca falou de futebol com você, também torce pra Lusa.

F: R. Veras - Minha filha e sobrinhos {hoje adultos} no dia que entraram em campo com o time.

F: R. Veras, Minha filha e sobrinhos {hoje adultos} no dia que entraram em campo com o time

Sim, eu tenho repetido alguns “sim e você” no inicio das frases, porque, como torcedor da Portuguesa, tenho convicção do que digo. O Canindé que você vê vazio, nós vemos cheio. Nossa história está tatuada naquele cimento. Nossos avós, pais, tios, nos levando desde pequenos e mesmo que alguns já se tenham ido, nossa história lota o estádio.

Será que você encontra torcedor de outro clube que diz “Já vi jogo de onde você imaginar aqui. Até mesmo da tribuna de honra, cabine de rádio, quanto mais de qualquer canto da arquibancada”.

Mas a situação da Portuguesa parece terminal. Descobri que tanto quiseram trocar (o nome), hoje é a única coisa que ela possui.
Sim, Portuguesa é tradição. Portuguesa é um grande negócio, um gigante nas mãos erradas. Tão erradas, que matam a própria galinha que dá seus ovos de ouro. Dão tiro no próprio pé. E estes sabem tão bem o quão grande é a Portuguesa, que não querem entregar pra um bom administrador.

Duvido que não tenha gente competente, com visão pra ressuscitar a Lusa. Mas óbvio que só o farão com a saída de quem está lá. Não quero entrar muito neste mérito, pois acusar envolve provar. Mas os absurdos são claros e muito divulgados pelos órgãos de imprensa.

Assim, encerro reafirmando que pisar no Canindé é sentir a história de uma colônia em um país e que o amor por este clube, só faz do torcedor da Portuguesa, um apaixonado que muitas vezes guarda pra si este amor ao invés de por pra fora.

De minha parte, esquecendo os dirigentes. Obrigado Portuguesa pela euforia que senti nos anos de 1973, 1975, 1976,1980, 1984, 1985, 1987, 1991, 1995, 1996, 1997, 1998 e 2011.

Talvez você pergunte: o que aconteceram nestes anos? Se nos anais do esporte ela não foi campeã. Diria a você que os torcedores da Portuguesa sabem. Ela chegou perto, pertíssimo. Mas forças ocultas, como diria Jânio Quadros em sua renuncia, lhe tiraram títulos. E eu queria só metade deles. A Portuguesa seria gigante.

 
 
 

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Texto:  Torcedor e escritor Ricardo Veras